Mãe acredita na nossa mentira mesmo
sabendo que não é verdade. Mãe é a única pessoa que nos telefona antes
das 8h. Aliás, mãe telefona quando não precisa, telefona para não falar
nada. Mãe sempre alcança o que deseja dizendo que é bom para gente. Mãe
aprende com os filhos, mas acerta mesmo com os netos. Mãe conserva
eternamente o cheiro de hipoglós entre os dedos. Mãe consulta a opinião
do pai para fazer tudo diferente. Mãe é competitiva na alegria e na
tristeza. Não aceita que alguém seja melhor do que ela. Nem que alguém
seja pior do que ela. Mãe não pede desculpa, pede licença para chorar.
Vai chorar sempre que você gritar com ela. Vai chorar sempre que você
não responder para ela. Vai chorar de qualquer jeito. Mãe é nosso Pen
Drive: não consegue colocar fora nem o rascunho do nosso desenho da 2ª
série. Mãe espalha notícia sobre a nossa vida antes da confirmação e
depois alega que não entende como todo mundo já descobriu. Mãe questiona
o que queremos para apoiar no final. Condena primeiro para perdoar em
seguida. Mãe tenta evitar ciúme criando segredos entre os irmãos. Mãe
constrange com abraços e beijos e apelidos fofos e sonha andar de mãos
dadas na rua com o filho na frente de todos. Mãe reclama do filho para o
filho e elogia o filho para os outros. Quando alguém parabeniza sua
criança, a mãe agradece como se fosse para ela. Mãe não desmancha o
quarto do filho adulto esperando que ele volte para casa.
Mãe nunca tem razão, ela é nossa razão para viver.
Fabrício Carpinejar
Nenhum comentário:
Postar um comentário