Rasga as bordas da saia, e anda. A vida , por vezes, dança, tão nua,
entre filós. E muda. Dos passos: caminha de costas pro tempo, escasso.
Ramo de trigo entre os seios pra lembrar do que farta. Faz promessas em
dia de lua, cheia. Faz colar de lentilhas. Borda de azul a saia branca,
esse desejo de ter oceano nas ancas. Flores do campo nas mãos, passos
firmes e lentos. Trovões rasgam o véu do tempo. Presentes passado e
futuro. Relógio de sol. Im-pulsos. Risca em vermelhos e laranjas a
parede branca descascada. Põe fogo-artifício sobre lençóis. Depois
improvisa com bambus uma cruz. Acentua sobre as cinzas, as flores. Traça
o sinal-da-cruz na fronte. Quarta-feira, cinzas. E lembra que sempre é
possível re-começar. Nas mãos: nada, desejos: alguns de alma, e ela
escreve areia ao redor das ruínas. Ergue um templo de palavras, sacras.
Faz preces. Tece apreços. Lembra sem pudor até inflamar os olhos. Vibra a
alma em sol sustenido com sétima. Não traça caminhos, só ascende às
estrelas. E espera. O ano rebenta o tempo para deixar sua marca. E ela
demarca em seus braços um tempo que não há de passar. Jamais.
Cecília Braga
Nenhum comentário:
Postar um comentário