quarta-feira, 10 de abril de 2013

Provisoriamente não cantaremos o amor, 
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os braços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, 
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Carlos Drummond de Andrade

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