Eu achava lindo esperar na porta do restaurante enquanto ele vinha ao longe andando rápido e depois eu ria dizendo que ele andava feito um robozinho. Talvez ele nem reparava que eu achava maravilhoso a mão dele vindo encontrar com a minha do outro lado da mesa. E como o papo num almoço na segunda-feira cheia de cansaço e preguiça rendia como se fosse o alívio de sexta à noite. E nem que qualquer conversa era um alívio. Talvez ela não repare que olhando de longe é engraçado porque às vezes parece que a cabeça dele é desproporcional ao corpo. Mas é só as vezes. Mas enfim, depois, se encontrasse um conhecido, as mãos nunca desenlaçariam e dançariam no ritmo do papo.
Em tempos de muito estudo e puro estresse ele geralmente não usa blusa escura. E eu achava lindo acordar com ele estudando com a cadeira do meu lado me olhando dormir com o bolo de folhas na mão. Me sentia muito mais importante que o direito do trabalho e todas as outras doutrinas do mundo.
Fazer carinho nas costas dele era meu passatempo favorito nos domingos a tarde. E acho que não tinha nada melhor que o sabonete passeando pelas minhas costas durante o banho, um amor limpinho. E se no meio da noite eu acordasse com seus braços e pernas em cima de mim eu ficava imóvel, mesmo sem sono, que era pra ele continuar sereno.
Quando chegava o frio, ele sempre lembrava que morango e brigadeiro combina muito comigo e mais ainda com a gente. Quando chegava o calor, a gente, religiosamente, andava com as mãos dadas firmemente ao encontro do vício que ele mesmo colocou na minha vida, o açaí. Ele sempre tomava aquele restinho que ficava no meu copo e limpava o leite ninho no canto da minha boca. O calor incendiava, mas ainda assim na hora de dormir ele me abraçava e era lindo, mesmo que absurdamente quente.
Era mais lindo ainda entrar num táxi e vê-lo ficando pra trás decorando, por precaução, a placa do carro. Cinco minutos depois: "Chegou?". Já havia chegado e já queria voltar.
Era gostoso ver como qualquer cinco minutos sem vê-lo era uma eternidade e sentir frio na barriga quando faltava pouco pra reencontros.
Mas o tempo passou, a intensidade passou, as coisas mudaram. Não temos tanto cuidado, não somos tão urgentes. Não temos tempo. Ele é gente grande, eu sou menina. A gente usa a palavra que antes unia pra ferir. Nossos atos não ligam nossas linhas. E agora é estranho perceber que antes parecíamos eternos e agora nós não estamos preparados. Agora cinco minutos, dez dias, dez meses, um ano... qualquer tempo de distância é completamente tolerável. "A vida quis assim!", "Deus sabe o que faz", "Vamos dar tempo ao tempo": frases genéricas pra dar conforto a dois corações aflitos. E se bem sabemos, um bem mais aflito que o outro. Corações aflitos e uma certeza: só amor não basta. Talvez nunca baste.
T.
Sempre visito teu blog. Hoje, por coincidência, me vi em suas palavras. Lindo texto!
ResponderExcluirSempre visito teu blog. Hoje, me vi em suas palavras. Lindo texto!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho, Muniz A.!
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