sábado, 22 de fevereiro de 2014

Eu achava lindo esperar na porta do restaurante enquanto ele vinha ao longe andando rápido e depois eu ria dizendo que ele andava feito um robozinho. Talvez ele nem reparava que eu achava maravilhoso a mão dele vindo encontrar com a minha do outro lado da mesa. E como o papo num almoço na segunda-feira cheia de cansaço e preguiça rendia como se fosse o alívio de sexta à noite. E nem que qualquer conversa era um alívio. Talvez ela não repare que olhando de longe é engraçado porque às vezes parece que a cabeça dele é desproporcional ao corpo. Mas é só as vezes. Mas enfim, depois, se encontrasse um conhecido, as mãos nunca desenlaçariam e dançariam no ritmo do papo.
Em tempos de muito estudo e puro estresse ele geralmente não usa blusa escura. E eu achava lindo acordar com ele estudando com a cadeira do meu lado me olhando dormir com o bolo de folhas na mão. Me sentia muito mais importante que o direito do trabalho e todas as outras doutrinas do mundo.
Fazer carinho nas costas dele era meu passatempo favorito nos domingos a tarde. E acho que não tinha nada melhor que o sabonete passeando pelas minhas costas durante o banho, um amor limpinho. E se no meio da noite eu acordasse com seus braços e pernas em cima de mim eu ficava imóvel, mesmo sem sono, que era pra ele continuar sereno.
Quando chegava o frio, ele sempre lembrava que morango e brigadeiro combina muito comigo e mais ainda com a gente. Quando chegava o calor, a gente, religiosamente, andava com as mãos dadas firmemente ao encontro do vício que ele mesmo colocou na minha vida, o açaí. Ele sempre tomava aquele restinho que ficava no meu copo e limpava o leite ninho no canto da minha boca. O calor incendiava, mas ainda assim na hora de dormir ele me abraçava e era lindo, mesmo que absurdamente quente.
Era mais lindo ainda entrar num táxi e vê-lo ficando pra trás decorando, por precaução, a placa do carro. Cinco minutos depois: "Chegou?". Já havia chegado e já queria voltar.
Era gostoso ver como qualquer cinco minutos sem vê-lo era uma eternidade e sentir frio na barriga quando faltava pouco pra reencontros.
Mas o tempo passou, a intensidade passou, as coisas mudaram. Não temos tanto cuidado, não somos tão urgentes. Não temos tempo. Ele é gente grande, eu sou menina. A gente usa a palavra que antes unia pra ferir. Nossos atos não ligam nossas linhas. E agora é estranho perceber que antes parecíamos eternos e agora nós não estamos preparados. Agora cinco minutos, dez dias, dez meses, um ano... qualquer tempo de distância é completamente tolerável. "A vida quis assim!", "Deus sabe o que faz", "Vamos dar tempo ao tempo": frases genéricas pra dar conforto a dois corações aflitos. E se bem sabemos, um bem mais aflito que o outro. Corações aflitos e uma certeza: só amor não basta. Talvez nunca baste.


T.

3 comentários:

  1. Sempre visito teu blog. Hoje, por coincidência, me vi em suas palavras. Lindo texto!

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  2. Sempre visito teu blog. Hoje, me vi em suas palavras. Lindo texto!

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